O filme mais visto nos cinemas amapaenses

Personagens Moisés (esq.) e Ramsés (centro), do
filme "Os Dez Mandamentos" (1956), exibidos em
vários cinemas amapaenses em novembro/1962.
Foi exatamente na noite daquele dia 03 de novembro de 1962 (num sábado), que mais de 300 pessoas assistiriam em Macapá ao lançamento do filme “Os Dez Mandamentos”, um longa-metragem bíblico de quase 220 minutos, produzido na década de 1950 pelo lendário diretor norte-americano Cecil B. De Mille (1881-1959), uma produção cinematográfica que conta a história bíblica do hebreu Moisés e seu povo, que buscavam a sua libertação do Egito, na época, comandada pela monarquia impiedosa de Ramisés, um Rei que duvidava da existência Divina, até que se provou o contrário perante várias situações que se eventuam na história. 

Segundo o filme, Moisés (esquerda) era o "filho"
preferido do Faraó Seth (direita).
A película estreou no antigo Cine Territorial, localizado numa sala anexada ao Grupo Escolar Barão do Rio Branco (atual Escola Estadual), lotando ainda na sessão de lançamento, onde as 250 poltronas estavam preenchidas e outras dezenas de espectadores que assistiriam de pé ao filme. 

Para quem esteve presente naquele dia inesquecível, as atenções para o filme foram gerais. 

“Ninguém conseguia tirar os olhos de cada cena que o filme mostrava. Era uma história cheia de detalhes, que não tinha como esquecer um filme daqueles”, contou Carlos Tavares, hoje com 62 anos, que na época do lançamento do filme tinha cerca de 10 anos, onde lembrou que a cena do filme que mais surpreendeu o público foi a abertura do Mar Vermelho. “Foi uma cena que assustou e ao mesmo tempo emocionou muitas pessoas que estavam presentes no cinema”. 

Convertido, Moisés enfrenta a ira do "ex-irmão"
Ramsés, agora Rei do Egito.
Com duração superior a três horas, ninguém se importou com o encerramento do filme, que passou das 23hs da noite, mas deixando uma marca de satisfação em cada pessoa que compareceu àquela sala de espetáculos. 

Exibição em Santana e Serra do Navio
Após ficar em exibição pela capital por quatro dias consecutivos, com todas suas lotações esgotadas, o longa-metragem foi solicitado pela diretoria da ICOMI – através do seu Diretor de Departamento de Relações Públicas Dr.º Euvaldo Simas Pereira, que havia assistido a uma das sessões do filme em Macapá –, sendo exibidos nas modernas salas de projeção cinematográfica instaladas nas vilas residenciais da mineradora. 

Cena de abertura do Mar Vermelho surpreende o público, e
entrou para a história do cinema mundial.
No dia 07 de novembro, o filme seria exibido no Cine Amazonas, na Vila Amazonas, em duas sessões programadas em horários distintos (tarde e noite), também contando com suas lotações esgotadas, onde mais de 200 pessoas se espalharam pelo local em cada sessão, entre assentos e paredes (muitos preferiram ficar em pé para assistir ao clássico). 

“Quando a população soube que seria exibido no cinema da Vila (Amazonas), insistiram com a diretoria da ICOMI para que fosse em duas sessões por que tinha muita gente que já havia solicitado a compra de ingressos para assistir ao filme”, lembra o ex-motorista aposentado da ICOMI Francisco Reis dos Santos, 73 anos, que reside em Macapá, e na época prestava serviços no escritório administrativo da mineradora em Santana. 

A exibição do filme em duas sessões no Cine Amazonas foi em razão de alguns funcionários da empresa que trabalhavam durante o dia, e somente teriam tempo após às 18hs para assistir à película. “As duas sessões foram lotadas, só que deu mais gente no horário da noite, que no horário da tarde”. 

Trecho publicado em jornal amapaense, noticiando
o sucesso que o filme teve, com sessões lotadas.
(Jornal "Amapá", de 10/11/1962, edição 1180)
No dia seguinte (08) foi a vez da população de Serra do Navio prestigiar a película, que não poupou os mesmos elogios da sua vila co-irmã, mas tendo apenas uma sessão de exibição, que resultou em inúmeros comentários positivos dos moradores serranos. 

Temporada estendida
O sucesso de exibição do filme fez com que a película retornasse ao Cine Territorial de Macapá no dia 09 de novembro, se mantendo em cartaz por mais três dias, e contando novamente com suas sessões lotadas. 

“Fez tanto sucesso esse filme em Macapá, que tinha até álbum de figurinhas com imagens do filme que vendiam na época, era mais quem queria ter álbum daquele para colecionar”, contou empolgado Tavares sobre a repercussão cinematográfica. 

Estima-se que as exibições desse longa-metragem nos três cinemas citados (Macapá, Santana e Serra do Navio) foram assistidas por mais de 3.200 espectadores amapaenses, um número bem elevado para aquela época, quando as temporadas não totalizavam sequer 700 espectadores por semana.

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