O desabafo dos pais de Rarison Ricardo

Rarison (camisa branca) ao lado do irmão e o pai
Toni (atrás), que vem lutando pela saúde do filho.
No domingo passado (17), o modelo Rarison Ricardo, que ficou bastante conhecido após sofrer um grave acidente automobilístico em 2013, e veio a entrar em estado de coma temporário, precisou ser internado às pressas no Hospital Estadual de Santana (AP), em razão de ter adquirido uma gripe que poderia resultar em um princípio de pneumonia, caso não fosse tratado o quanto antes. 

O caso do modelo ficou conhecido na imprensa local e nacional (e até mesmo nas redes sociais) após sua família solicitar apoio do Governo do Amapá para ajudar no tratamento de seu primogênito (já que o casal possui outros três filhos), mas somente vieram a ser atendidos após entrarem na justiça contra o Executivo Estadual. 

“É dever do Estado amparar todo e qualquer cidadão que mora naquele lugar”, disse a enfermeira Rosely Miranda, mãe do modelo Rarison Ricardo, ao lado do esposo Toni Vitória, ao receber o blog Santana do Amapá no último final de semana em sua residência. 

Modelo Rarison Ricardo está em
coma desde novembro de 2013.
Determinados, os pais do modelo puderam se sentir mais aliviados após Rarison retornar para a casa na última quarta-feira (20) para continuar o tratamento ao lado de familiares, após apresentar uma melhora em seu quadro de saúde. 

“Por mais que ele esteja nessa situação (coma), ele demonstra muita agitação e nervosismo quando está dentro de um hospital. Mas logo ele cria uma estabilidade emocional quando chega aqui em casa”, explicou a enfermeira, que mantém o filho em um quarto que foi totalmente adaptado (tipo mini-UTI) para acomodar o modelo desde os primeiros meses após o acidente. 

Do acidente ao tratamento
Desde o dia 16 de novembro de 2013 – data em que o modelo Rarison Ricardo se envolveu em um acidente de carro na Rodovia Salvador Diniz, minutos antes de chegar no distrito de Fazendinha (Macapá) – que os pais vem lutando incansavelmente para encontrar soluções que favoreçam o tratamento do modelo. 

Ao todo foram expedidas três (03) determinações judiciais obrigando o Estado em assumir a situação de saúde do modelo. No entanto, quase nada mudou nos últimos dois anos. 

Rosely e Toni (pais de Rarison) lutam na justiça
para que o Estado assuma o tratamento do filho.
“Ele requer uma atenção especial por parte do Estado. Temos um laudo médico que recomenda o tratamento diário com vários especialistas”, disse o pai do modelo, que apresentou um laudo médico, apontando a necessidade de tratamentos fisioterapeutas, e outras especialidades. “Todos esses profissionais o Estado tem disponível no CREAP (Centro de Reabilitação do Amapá), mas preferem não cumprir o que determina a justiça”. 

Segundo a família, o único acompanhamento público de saúde que vem sendo realizado é por parte do NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família), mantido pela Prefeitura de Santana, que disponibiliza um profissional com visitas semanais, e que poderá deixar de atender o caso por ordens médicas. 

“O que ele precisa é de um fisioterapeuta-neurológico especializado para acompanha-lo diariamente”, descreveu o pai, que ainda vem aguardando pela posição do governo amapaense desde a última audiência judicial, ocorrida no dia 19 de novembro de 2015. 

Providências erradas
A família do modelo ainda contou que, inicialmente, ainda em 2014, recebeu uma resposta do Estado de que o tratamento específico para Rarison seria realizado pela Santa Casa da Misericórdia de Belo Horizonte (MG), onde possivelmente teria as condições médicas necessárias para o modelo. 

“Nos fizeram acreditar que ali seria a nossa salvação, mas a realidade foi outra quando chegamos lá”, revelou Toni, que somente tomaram conhecimento de que o referido hospital mineiro não tinha as especialidades indicadas quando chegaram ao local. “Nem o diretor do hospital entendia o que estávamos fazendo lá”. 

A família permaneceu no Estado mineiro por 13 longos meses, chegando até mesmo a enfrentar problemas para se manterem na região, além de terem se desdobrado com cuidados maiores com o modelo que acabou adquirindo bactérias hospitalares durante o período de internação. 

“A única vantagem de estarmos ali (em Belo Horizonte) era o interesse dos médicos com o Rarison, que passavam uma receita e a gente conseguia essas medicações diretamente na rede de farmácias mantida pelo Estado, o que não acontece aqui”, contou Toni. 

Condições próprias
Um dos fatos também ditos pelos pais do modelo Rarison Ricardo está relacionado aos gastos empenhados desde o início do tratamento. Não se tem um valor total preciso, mas a família tem assumido com todos os custos, que vão desde as medicações transcritas, como também com os profissionais que precisam acompanha-lo periodicamente. 

“Gastamos cerca de R$ 300 em medicações (curativos e injeções) que chegam a durar no máximo quatro dias, daí corremos atrás de auxílio para não deixar faltar nada pra ele”, disse o pai do modelo, que lamentou a falta de interesse do poder público em arcar ao mesmo com as medicações. “Tem medicação que o Rarison utiliza que não tem rede farmacêutica do Estado, mas tem nas farmácias convencionais da cidade. O que custa pro Estado comprar essas medicações nessas farmácias e doar pra gente?” 

Várias mobilizações populares (e pelas redes sociais) foram feitas em prol do modelo, como forma de arrecadar valores que custeiam o tratamento de Rarison, sendo que atualmente os gastos vão se mantendo a cargo da família. 

“A visita de qualquer especialista para acompanha-lo é a gente que paga, se não ele pode piorar”, disse Rosely. 

A esperança
Após a repercussão que foi retomada pelo fato na semana passada – quando o modelo precisou ser novamente internado, a família ainda vem aguardando um posicionamento por parte do Governo do Amapá sobre a situação do modelo. 

Segundo a família, o governo amapaense vem prolongando constantemente uma determinação judicial, como forma de evitar assumir uma responsabilidade que lhe compete. 

Vale ressaltar que entre as determinações impetradas pela justiça também está uma cadeira de rodas específicas para o modelo, que seria adaptável para a sua locomoção, já que a referida cadeira custa cerca de R$ 20 mil. 

“O Estado sabe tudo o que é obrigação dele, ainda mais sob ordens da justiça, que o manda assumir com todos esses cuidados (medicações e especialistas)”, pontuou o pai do modelo. 

O blog fez três tentativas de contato, ainda na manhã desta segunda-feira (25), com assessoria de comunicação da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) pelo telefone 3212-6100, para buscar esclarecimentos sobre o caso, mas não obtivemos retorno.

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